Caso Lucas BBB: um espelho dos dias sombrios vividos pela nação brasileira
Ao acordar nesta manhã do dia 07 de fevereiro de 2021, eis que me deparo com uma notícia que invadiu as redes sociais: a desistência de Lucas Penteado na participação da Edição 21 do Big Brother Brasil.
Dentre os diversos títulos e comentários sobre o caso foi uma crítica do canal UOL afirmando que sua saída era a vitória da intolerância e uma derrota para a Rede Globo de Televisão. Dentre as alegações para tal afirmativa está a de que o Canal não tenha sabido lidar com as humilhações e perseguições de outros participantes e tenha se mantido passivo, sem intervir na situação.
Confesso que me senti um tanto quanto surpreso com a crítica, uma vez que a a proposta do programa e até mesmo de quem o assiste é de acompanhar a vida como ela é, com participantes que escancarem suas personalidades, tal como os são na sua vida real.
Não estou aqui para defender a Rede Globo ou tão pouco criticá-la, mas, busco, sim, um olhar reflexivo sobre o tema e sobre nossas ações...
Não fomos nós que, mesmo vendo as crueldades cometidas e vociferando a injustiça da situação, continuamos grudados na TV, esperando as cenas dos próximos capítulos? Não somos nós os que reclamam de tédio quando há a calmaria e parceria na casa, alegando chatisse, pedindo para ver o circo pegando fogo?
Então, por que agora reclamamos que a Globo deixou este circo pegar fogo e permitisse que um integrante do programa sofresse tanto? Não é por "lerês e babados fortes" que esperamos tanto a chegada de cada edição?
Alguém já parou para pensar que a Rede Globo só está entregando na TV, um reflexo de uma sociedade, que vem se entregando a cada dia, a uma filosofia de vida mais inflexiva e egoísta, onde só existe espaço para as próprias verdades e convicções pessoais, bem como uma certa hipocrisia naquilo que taxamos como certo ou errado?
Então, também, não seríamos todos nós os influenciadores de toda essa perversidade, crueldade, passividade e permissividade? Não seria isso uma conexão entre a emissora e nós mesmos?
Afinal de contas, não somos nós que no dia a dia, fechamos nossos olhos para atitudes insensíveis e inumanas vem se tornando cada vez mais comuns e corriqueiras no nosso país? Não somos nós que deixamos a empatia de lado e passamos a olhar mais para dentro dos nossos próprios umbigos?
Escrevi isso na terceira pessoa do plural porque também me vejo inserido neste contexto e em cada um de nós reside um prazer mórbido em presenciar atos de crueldade; seja para no final poder afirmar que o bem venceu o mal ao término da luta, ou até mesmo para satisfazer os nossos desejos mais sombrios.
Bem e mal habitam em nós e, por mais que sejamos influenciados pelo quarto poder, aquilo que somos também influencia as ações destes órgãos... A Globo se mostra para um determinado perfil de público, a Record para um outro e assim, desejos vão se entrelaçando e se conectando, de tal forma, que já não se sabe quem está dentro de quem...
E neste embate, vale a pena para pensar e ver em qual pé você se encontra nesta dinâmica... É do tipo que acredita cegamente nas coisas? É do tipo que se interessa única e exclusivamente por seus próprios dogmas e verdades pessoais? É do tipo que consegue discernir os interesses pessoais saudáveis aos interesses pessoais nocivos e egoístas, que não fazem nenhum bem à coletividade? Que pessoa é você?
Vale ressaltar que de nada vale acusar essa ou aquela emissora e esquecer a sua, a minha responsabilidade, para aquilo que é produzido por elas. São um reflexo de quem as assistem... Elas são um espelho meu, são um espelho seu e só nos incomodamos com um caso assim, como o do Lucas, porque é difícil assumir o prazer (mesmo que seja inconsciente) que sentimos com essa crueldade nua e crua...
Como fazer para se livrar desta armadilha? Talvez não tenhamos como nos desvencilhar totalmente delas, mas, construindo a ideia e as práticas da empatia, do respeito à liberdade alheia, da defesa inquestionável dos direitos humanos, estaremos no caminho certo para uma sociedade mais justa e saudável psicologicamente...
Foi duro ver o Lucas se despedindo do jogo, por não suportar a intolerância e a pressão dos outros participantes da casa, mas, apesar de tudo, ele fez o melhor para si, ao abandonar uma odisseia, com tantos monstros e demônios, que se mostrou para ele um calvário... Acredito que ele tenha se dado conta de que não conseguiria dar conta da pressão e de como continuar ali, iria lhe fazer mal...
Priorizou o próprio bem estar e percebeu que por maior que seja, nenhum dinheiro no mundo paga a sua paz de espírito. Existe ainda a verificação, por parte dos telespectador do programa de que o mesmo possui as suas questões pessoas a serem tratadas e, espero de coração, que ele busque auxílio para uma vida mais leve e com melhor qualidade.
Jansen Santos Sarmento da Silva - Doctoralia.com.br
Quanto a nós, que assistimos o programa (e a vida alheia), fica aqui o desejo de uma busca pela consciência de que, sem as devidas observações, sem as devidas reflexões sobre os nossos próprios atos e sem a devida ciência de que em nossa humanidade o mal estará sempre batendo na porta, querendo entrar, continuaremos assistindo cenas assim, não só nos Big Brothers da vida, como também na nossa vida social, protestando e ao mesmo tempo desejosos para que o circo jamais deixe de pegar fogo, seja na TV ou na vida real... Vale a pena pensar nisso.
Psicólogo Jansen Sarmento
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