Sempre considerei Elis Regina uma das maiores cantoras que o Brasil já teve e nunca, nem em algum segundo sequer jamais desconsiderei tal afirmação! Mas, apesar de apreciá-la como cantora, confesso que tinha uma certa resistência quando o assunto era sobre sua vida pessoal. Percebia um certo silêncio o que me trazia a sensação de uma imposição de aura de "quase santa" imposta pela mídia musical e, em decorrência de tal percepção, acabei criando uma certa resistência a homenagens sobre sua obra e vida pessoal.
Com a chegada do filme Elis vieram também as críticas positivas e grandes elogios sobre a película, causando-me a curiosidade de assistir. Confesso que abrir mão de minhas resistências não é das tarefas mais fáceis e a possibilidade de mais uma versão recheada de verdades planejadas e esteriótipos bonzinhos me amedrontavam e perguntas não paravam de surgir: Será que o filme é bom mesmo? Será uma nova obra embalada por uma Elis quase perfeita, de vida belíssima com uma morte prematura poética, quase lúdica? Será que não ficarei distante do furacão que a Pimentinha sempre foi?
Abri mão do medo, do receio e para minha surpresa, me deparei com uma história, que além de colocá-la no patamar artístico que ele sempre mereceu, também mostrou uma Elis real. Um furacão tanto para o bem, como para o mal. Uma mulher impetuosa, sem medo de lutar por seus sonhos, mas, também corroída pela responsabilidade da carreira e de tudo o que representava como artista.
Mesmo sendo a estrela que sempre foi e de possuir uma voz monumental, o filme é sincero e nos apresenta uma Elis humana, gente como a gente; pessoa comum, dotada de defeitos e qualidades, que assim como qualquer um de nós, está sujeita a erros e acertos, buscando descobrir a si mesma e um sentido para sua vida!
Infelizmente, sua carreira foi interrompida de maneira trágica e o uso excessivo de álcool e drogas levaram-na para um outro plano tão antes da hora que deveria partir. Mas, apesar dessa perda que até os dias atuais nos afeta diretamente, foi ótimo não termos visto sentimentalismos nem apelações para uma despedida cheia de pompas, ilusões ou mentiras.
Para nossa tristeza, a mulher com a maior voz do Brasil acabou por se perder em suas questões e escolhas; situação das quais todos nós estamos sujeitos e tudo isso é feito sem exageros: não existe veneração ou farsas! Está diante de nós uma mulher de personalidade forte, que riu, chorou, se encantou e se decepcionou...
Saí do cinema satisfeito com a produção e admirando ainda mais nossa querida Pimentinha: uma mulher de voz extraordinária, com uma vida breve, repleta de bons e maus momentos, porém, muito intensos. Vida longa à música e à memória de Elis Regina! Um monstro sagrado de nossa música que está viva para sempre na história da MPB e que se encravou eternamente no meu coração.
(...) e em cada passo dessa linha pode se machucar, mas a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar
Jansen Sarmento
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