Quando ouvimos a música que existe em nós...
O texto descrito acima foi retirado de um livro de Jorge Amado, chamado Capitães da Areia. Para quem não conhece a história, ele narra a história de meninos de rua na cidade de Salvador, no início do século XX... Se prestarmos bastante atenção, é uma história bastante atual onde o mestre escritor, conta de forma poética as aventuras e agruras de crianças que não tiveram oportunidades e chances na vida, sendo obrigados a desde pequenos se virarem por conta própria nesse mundão de Deus.
Se transpormos a poesia da obra para os dias atuais, veríamos que o quadro continua o mesmo, ou até mais acentuado, levando-se em consideração todos os ingredientes que, presumo eu, colocam nossos pequenos em um nível de risco ainda mais perigoso que o daquela época.
Mas, você me pergunta: o que diabos a música tem a ver com toda essa história?
Optei em expor o texto por batido em mim como música para a alma e por demonstrar o quanto os fatores da vida levaram os pequenos da obra a endureceram seus corações e assumiram o controle de sua vida, subversivamente, antes do tempo... Estando desamparados, foram obrigados a cuidarem de si mesmos e lutaram por suas vidas, com unhas e dentes (de um jeito fora da lei) para assegurarem o mínimo de sobrevivência...
Contudo, na história, um único momento musical consegue jogar por terra toda a armadura criada e escancara a verdadeira face destes pequenos infratores: naquele momento eram apenas crianças celebrando a amizade, o amor e a vida! Crianças essas que despiram-se de sua infância por conta da má sorte que arrancou seus pais de suas vidas, dos maus tratos sofridos por responsáveis relapsos (que em uma boa parte sofreram as mesmas agruras dos pivetes soteropolitanos), do descaso social e governamental e por aí vai...
Nos dias de hoje, realmente não é tarefa das mais fáceis não termos nossas opiniões e não nos revoltarmos com os pequenos ou grandes crimes realizados por crianças e adolescentes. Nada mais justo buscarmos por justiça e querermos que aqueles que os cometem, paguem por seus feitos, em conformidade com a lei. Porém, como seria bom que não nos esquecêssemos que por trás de um pequeno infrator é muito provável que exista uma história desencadeante dessa escolha de vida errada.
Não peço um olhar piedoso ou justificação para os erros cometidos; conclamo apenas a estarmos sensíveis à música que existe em muitos dos nossos pequenos "fora da lei". Pode parecer que não, mas, grande parte está a espera de um gesto, de uma canção subjetiva que desperte a real criança que não teve condições de se fazer presente. Um olhar sem medo, um ato de respeito pode mudar uma vida!
Portanto, possamos estar vigilantes, exercendo nosso papel de cidadãos, cobrando dos governantes o cumprimento de um mundo mais justo e com melhores opções. Que cobremos das autoridades a punição de pais negligentes e dos nossos órgãos sociais a possibilidade de trazer a conscientização e instrumentos que favoreçam a mudança e um novo olhar de dentro para fora. E que não deixemos nunca de ter a certeza de que se despertarmos a música interior que existem em nós, grandes transformações estarão por vim. E, isso vale para todos, sem exceção!
Jansen Sarmento
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