Precisamos Falar sobre Aquarius...
Na semana passada tive a oportunidade de assistir ao cultuado e aclamado filme Aquarius, que está fazendo um belo caminho nos circuitos de cinema, no Brasil e no exterior... Vamos à história:
Clara, uma mulher de classe média alta, com sessenta e cinco anos, moradora do prédio Aquarius, na orla da praia de Boa Viagem, cidade do Recife, é a única que se nega a vender seu apartamento a uma grande construtora, frustrando os planos da empresa de erguer um novo arranha céu de luxo, no lugar do antigo edifício. Ela se nega a abrir mão de toda a história vivida naquele apartamento e com isso, trava uma guerra por sua permanência no prédio.
Embora seja um filme premiado e elogiado pela crítica nacional e internacional, para o grande público, acostumado a efeitos especiais, enredos menos complexos e mais ágil, não tem fácil digestão. É um filme de pouca ação, mas, repleto de ótimos diálogos. Ele conta a história de vida da personagem principal e mostra os principais acontecimentos que a levaram não sucumbir às propostas feitas pela construtora.
O longa conta todo o percurso de vida da personagem, desde sua juventude, passando pela construção familiar, na idade adulta e sua velhice. É também um filme do cotidiano que mostra o seu dia a dia e suas relações, seja com o guarda-vidas da praia, a empregada doméstica, os amigos, familiares e relacionamentos afetivos. Vemos, ainda, seus desejos, anseios carnais e a sua forma de lidar com de peito aberto (mesmo que isso lhe cause dor ou incômodo) com as situações traumáticas do passado.
A heroína da trama é extremamente verossímel e poderíamos encontra-la circulando por qualquer cidade brasileira. Pode ser uma vizinha, colega de trabalho, parente, amiga... Nosso país está cheio de Claras perambulando por aí. A atuação de Sônia Braga está perfeita e a atriz construiu com extrema verdade os motivos que a levaram na negativa da personagem e todo o seu envolvimento afetivo com o prédio, além de suas lutas pessoais ao longo da vida.
Contudo, num mundo onde a praticidade, a modernidade, a velocidade dos acontecimentos e a falta de apego tomam conta da sociedade atual, a recusa da venda de um imóvel considerado velho, sem comodidades e os confortos tecnológicos atuais, por um valor bem acima do praticado no mercado e alguns outros privilégios, tendem a causar um certo estranhamento e desconforto em gerações mais novas ou pessoas mais desprendidas, uma vez que num olhar mais frio e racional, sua "teimosia" não soa como algo coerente ou, até mesmo lúcido.
E é aí, na minha opinião, que reside o grande mérito do filme, como discussão: o que é melhor? Correr riscos em nome das lembranças do passado ou se entregar ao novo? É necessário se manter no mesmo lugar para que as lembranças permaneçam conosco? Agir de acordo com o senso comum dos vizinhos apagariam o seu passado? Estamos falando de uma idosa turrona e birrenta ou de uma mulher apegada à sua história?
Assim, como o longa, não quero me ater a dar respostas prontas. mas, quero que vocês encontrem a sua própria... O filme é ótimo, mas, não é um longa convencional, com o clássico final feliz ou viveram felizes para sempre! O que pode ser adiantado é que Clara é uma mulher forte, uma brasileira lutadora, que, assim como tantas outras tomou medidas extremas por aquilo que acreditava como verdade pra si...
E você? Qual seria a sua verdade? O que escolheria para si? Entraria nessa sua luta? Assista o filme e me conte!
Jansen Sarmento
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